Será que o meu filho/educando pode ter Défice de Atenção?

Em que consiste?
O Défice de Atenção consiste numa disfunção neurológica que afeta o funcionamento do córtex pré-frontal. O córtex pre-frontal é uma área do cérebro responsável pela atenção, organização, controle de impulsos, capacidade de expressar sentimentos, etc... Por esta razão, quando afetada, vai condicionar a capacidade da criança aprender, fazendo com que a mesma manifeste grandes dificuldades no contexto educativo.
O Défice de atenção apesar de ser muito comum nas crianças, pode também afetar os adultos, condicionando o seu quotidiano.
É um problema que afeta cerca de 5% a 10% das crianças em idade escolar, sendo mais frequente no sexo masculino.
O Défice de atenção pode estar associado à hiperatividade, sendo fundamental a realização de um diagnóstico precoce, de forma a ajudar a criança.
As primeiras manifestações costumam surgir antes dos sete anos de idade, manifestando-se nos vários contextos em que a criança se insere, ou seja, no contexto escolar, familiar, profissional e na forma como a mesmo estabelece as suas relações interpessoais.
Como detetar este tipo de situação na criança?
Os sintomas podem manifestar-se no início da infância, no entanto, o diagnóstico pode ficar mais evidente a partir do momento em que a criança vai para a escola, pois esta pode começar a evidenciar dificuldades de aprendizagem, que se manifestam por uma grande dificuldade em estar atenta, concentrada e interessada em todas as atividades educativas.
Geralmente são os pais e os professores que vão exercer um papel fundamental em detetar este tipo de situação, pois vão ser as pessoas mais próximas das crianças nesta fase das suas vidas onde começa a ser notório estas dificuldades. Por esse motivo, é importante haver uma troca de informação entre a escola e os pais/responsáveis, com a finalidade de perceber se este desinteresse evidenciado pela criança se manifesta em ambos os contextos.
Quais são as possíveis causas para desenvolver esta perturbação?
- Fatores genéticos;
- Anormalidades cerebrais;
- Baixo peso ao nascer;
- Mãe fumadora ao longo da gravidez;
- Abuso infantil;
- Negligência;
- Exposição a neurotoxinas (chumbo).
Apesar dos estudos realizados, continua a existir um questionamento contínuo sobre a sua origem e até o momento não há um consenso científico sobre as suas reais causas, ou seja, quanto a ser de origem genética ou adquirida (fatores ambientais).
Sintomas caraterísticos
- Dificuldade em prestar atenção a detalhes ou cometer erros por descuido em atividades escolares, de trabalho ou durante outras atividades;
- Ter dificuldade de manter a atenção em tarefas ou atividades lúdicas;
- Não escutar quando lhe dirigem a palavra;
- Não seguir instruções e não terminar deveres de casa, tarefas domésticas ou tarefas no local de trabalho;
- Ter dificuldade para organizar tarefas e atividades;
- Evitar, não gostar ou relutar em se envolver em tarefas que exijam esforço mental prolongado (tarefas escolares, deveres de casa, preparo de relatórios etc.);
- Perder objetos necessários às tarefas ou atividades;
- Ser facilmente distraído por estímulos externos (para adolescentes mais velhos e adultos pode incluir pensamentos não relacionados);
- Ser esquecido em relação a atividades cotidianas.
Diagnóstico
Para realizar um bom diagnóstico é importante realizar um trabalho multidisciplinar com os vários intervenientes do quotidiano da criança.
Em geral, é preciso que a criança apresente seis ou mais dos sintomas apresentados por mais de seis meses antes de ser feito o diagnóstico. Já em adultos e/ou adolescentes (com mais de 17 anos), é preciso apresentar apenas cinco destes sintomas.
É importante que esses sintomas de desatenção estejam presentes antes dos 12 anos de idade e em mais de dois ambientes, como em ambiente familiar, escolar, profissional e na relação que estabelece com os pares.
É preciso haver evidências claras de que os sintomas interferem no funcionamento social, escolar ou profissional ou de que reduzem a sua qualidade.
Especialistas que podem realizar o diagnostico:
- Psicólogo
- Psiquiatra/Pedopsiquiatra
- Neuropsiquiatra
- Neuropediatra
- Neurologista
É importante estar preparado para a consulta, e por isso, deve reunir os dados necessários para facilitar a intervenção. Assim sendo, é importante que reúna os seguintes dados:
- Uma lista com todos os sintomas e há quanto tempo eles apareceram;
- Histórico médico, incluindo outras condições que você tenha apresentado bem como os medicamentos ou suplementos que esteja tomando com regularidade;
- Receitas anteriores com os medicamentos já tomados;
- Histórico de outras doença psiquiátricas.
Tratamento
O tratamento precoce é fundamental para que a vida daqueles que têm este transtorno seja mais saudável, produtiva e com mais qualidade. Por isso é imprescindível que os sintomas sejam logo identificados e tratados corretamente.
O tratamento de crianças e adolescentes deve ser multidisciplinar, ou seja, deve basear-se na intervenção com profissionais de várias áreas, como os da área médica, de saúde mental e pedagógica.
Avaliações com um psicólogo são importantes e necessárias, principalmente na implementação de estratégias que os ajudem a contornar a situação.
O tratamento com recurso a medicação é muito utilizado, pois apresentam um alto poder de eficácia e melhoram o funcionamento das áreas cerebrais responsáveis pelos sintomas do transtorno.
A orientação aos pais é fundamental, pois fornece os conhecimentos necessários sobre a doença. Além disso, vai ajudar a melhorar o convívio familiar e vai permitir que estes aprendam a lidar melhor com a criança, prevenindo futuras recaídas.
As crianças que sofrem com esta perturbação, sem qualquer apoio médico e psicológico, não costumam ultrapassar as suas dificuldades, e por essa razão, alguns sintomas tendem a persistir na adolescência e na idade adulta. Geralmente manifestam fracasso escolar, pouca autoestima, ansiedade, depressão e dificuldades na manutenção de um comportamento social adequado.
Quando não aderem ao tratamento, o risco de abuso de álcool ou de estupefacientes e a percentagem de suicídios tendem a ser mais elevados do que na população em geral.
É importante reforçar que a terapêutica pode aliviar muitos dos sintomas mas não existe uma cura específica para esta condição.
Como lidar com estas crianças?
Uma das recomendações à família é a suspensão das repreensões e dos castigos. É importante que as crianças sejam elogiadas, reconhecidas e valorizadas pelo que elas têm de bom, sempre que fizerem algo corretamente. Este reforço positivo vai contribuir para um aumento da autoestima da criança e evitar sérios problemas futuros, pois é muito prejudicial ficar constantemente repreendendo ou castigando a criança.
Intervenções no contexto escolar são importantes e muitas vezes é preciso um acompanhamento psicopedagógico e reforço escolar. A intervenção escolar facilita o convívio destas crianças com os colegas e tenta impedir que elas se desinteressem pela escola, o que é muito comum nesta perturbação.
dicas que deve aplicar ao seu filho/educando em casa:
- Estabeleça limites e regras;
- Seja paciente, demonstre afeição e amor;
- Faça elogios, incentive sempre que consegue cumprir uma atividade. Quando precisar repreendê-lo, tome cuidado com a forma com que o faz, pois o excesso de críticas prejudica a autoestima da criança;
- Procure passar mais tempo na companhia da criança;
- Ensine a criança a adquirir formas de organização adequadas, como calendário de atividades diárias;
- Seja claro e objetivo. Evite usar palavras de difícil entendimento ao se comunicar com a criança, procure usar palavras mais fáceis e frases curtas;
- Ao falar com a criança, posicione-se em frente da mesma, olhando nos seus olhos e fale com calma até ter certeza de que a criança o compreendeu;
- Jamais exponha a criança ou crie constrangimentos;
- Tente usar técnicas de motivação e recompensa;
- Não grite, use menos o "não" em detrimento de diálogos que o motivem a pensar e refletir.
dicas que devem ser implementadas na escola:
O ambiente em sala de aula pode ser desafiador para estas crianças, pois apresentam dificuldades em concentrar-se, o que condiciona as suas aprendizagens. Geralmente estas crianças acabam por ficar frustradas, pois querem se comportar e aprender da mesma forma que os colegas, situação que se torna complexa devido aos seus problemas neurológicos que as impedem de aprender de "maneira tradicional"
Algumas ações que podem melhorar a experiência da criança na escola:
- Planear com antecedência, falando com os professores ou diretores da escola, antes do ano letivo começar, para planear estratégias de ensino;
- Discutir as suas expectativas em relação ao ensino da criança com o professor, para que em conjunto, possam desenvolver metas realistas e possíveis de serem alcançadas pela criança;
- Ouvir o que o professor tem a dizer sobre as dificuldades de seu filho é essencial, pois dessa forma, entenderá melhor o seu raciocínio;
- Não esqueça de referir os medicamentos e tratamentos que a criança está a realizar;
- Questione o professor sobre quais as estratégias de aprendizagem que estão a funcionar na sala de aula, e quais não, para que possa aplicá-las em casa, por meio de educação domiciliar.
Mitos sobre o Défice de atenção
1. Só as crianças podem ter défice de atenção
Como vimos anteriormente, o défice de atenção pode prolongar-se até à vida adulta, condicionando o quotidiano destas pessoas. Contudo é durante a infância que esta perturbação se torna mais evidente, principalmente quando a criança entra para a escola.
2. Tem de ser hiperactivo para ter défice de atençãoApesar de estar muitas vezes associada, nem sempre quem tem perturbação de défice de atenção é uma criança hiperativa, e vice-versa.
3. Se consegue concentrar-se em algumas atividades, não tem défice de atençãoAs crianças que apresentam esta perturbação podem e têm momentos em que conseguem estar atentas e concentradas, apesar de serem períodos, considerados curtos, pois a sua capacidade em estar atenta está comprometida.
4. A medicação pode curar o Défice de atençãoEsta perturbação não é considerada uma doença, e por essa razão não existe uma cura específica e milagrosa. Contudo, a medicação vai ser essencial e fundamental para atenuar e diminuir os sintomas caraterísticos do défice de atenção.
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