Será que o meu filho/educando pode ter Défice de Atenção?

23-09-2022

Em que consiste?

O Défice de Atenção consiste numa disfunção neurológica que afeta o funcionamento do córtex pré-frontal. O córtex pre-frontal é uma área do cérebro responsável pela atenção, organização, controle de impulsos,  capacidade de expressar sentimentos, etc... Por esta razão, quando afetada, vai condicionar a capacidade da criança aprender, fazendo com que a mesma manifeste grandes dificuldades no contexto educativo. 

O Défice de atenção apesar de ser muito comum nas crianças, pode também afetar os adultos, condicionando o seu quotidiano.

É um problema que afeta cerca de 5% a 10% das crianças em idade escolar, sendo mais frequente no sexo masculino. 

O Défice de atenção pode estar associado à hiperatividade, sendo fundamental a realização de um diagnóstico precoce, de forma a ajudar a criança.

As primeiras manifestações costumam surgir antes dos sete anos de idade, manifestando-se nos vários contextos em que a criança se insere, ou seja, no contexto escolar, familiar, profissional e na forma como a mesmo estabelece as suas relações interpessoais.  


Como detetar este tipo de situação na criança?

Os sintomas podem manifestar-se no início da infância, no entanto, o diagnóstico pode ficar mais evidente a partir do momento em que a criança vai para a escola, pois esta pode começar a evidenciar dificuldades de aprendizagem, que se manifestam por uma grande dificuldade em estar atenta, concentrada e interessada em todas as atividades educativas.

Geralmente são os pais e os professores que vão exercer um papel fundamental em detetar este tipo de situação, pois vão ser as pessoas mais próximas das crianças nesta fase das suas vidas onde começa a ser notório estas dificuldades. Por esse motivo, é importante haver uma troca de informação entre a escola e os pais/responsáveis, com a finalidade de perceber se este desinteresse evidenciado pela criança se manifesta em ambos os contextos. 


Quais são as possíveis causas para desenvolver esta perturbação?


  • Fatores genéticos;
  • Anormalidades cerebrais;
  • Baixo peso ao nascer;
  • Mãe fumadora ao longo da gravidez;
  • Abuso infantil;
  • Negligência;
  • Exposição a neurotoxinas (chumbo).


Apesar dos estudos realizados, continua a existir um questionamento contínuo sobre a sua origem e até o momento não há um consenso científico sobre as suas reais causas, ou seja, quanto a ser de origem genética ou adquirida (fatores ambientais). 



Sintomas caraterísticos


  • Dificuldade em prestar atenção a detalhes ou cometer erros por descuido em atividades escolares, de trabalho ou durante outras atividades;
  • Ter dificuldade de manter a atenção em tarefas ou atividades lúdicas;
  • Não escutar quando lhe dirigem a palavra;
  • Não seguir instruções e não terminar deveres de casa, tarefas domésticas ou tarefas no local de trabalho;
  • Ter dificuldade para organizar tarefas e atividades;
  • Evitar, não gostar ou relutar em se envolver em tarefas que exijam esforço mental prolongado (tarefas escolares, deveres de casa, preparo de relatórios etc.);
  • Perder objetos necessários às tarefas ou atividades;
  • Ser facilmente distraído por estímulos externos (para adolescentes mais velhos e adultos pode incluir pensamentos não relacionados);
  • Ser esquecido em relação a atividades cotidianas.


Diagnóstico


Para realizar um bom diagnóstico é importante realizar um trabalho multidisciplinar com os vários intervenientes do quotidiano da criança. 

Em geral, é preciso que a criança apresente seis ou mais dos sintomas apresentados por mais de seis meses antes de ser feito o diagnóstico. Já em adultos e/ou adolescentes (com mais de 17 anos), é preciso apresentar apenas cinco destes sintomas.

É importante que esses sintomas de desatenção  estejam presentes antes dos 12 anos de idade e em mais de dois ambientes, como em ambiente familiar, escolar, profissional e na relação que estabelece com os pares. 

É preciso haver evidências claras de que os sintomas interferem no funcionamento social, escolar ou profissional ou de que reduzem a sua qualidade. 


Especialistas que podem realizar o diagnostico:


  • Psicólogo 
  • Psiquiatra/Pedopsiquiatra
  • Neuropsiquiatra
  • Neuropediatra
  • Neurologista


É importante estar preparado para a consulta, e por isso, deve reunir os dados necessários para facilitar a intervenção. Assim sendo, é importante que reúna os seguintes dados: 

  • Uma lista com todos os sintomas e há quanto tempo eles apareceram;
  • Histórico médico, incluindo outras condições que você tenha apresentado bem como os medicamentos ou suplementos que esteja tomando com regularidade;
  • Receitas anteriores com os medicamentos já tomados;
  • Histórico de outras doença psiquiátricas.


Tratamento


O tratamento precoce é fundamental para que a vida daqueles que têm este transtorno seja mais saudável, produtiva e com mais qualidade. Por isso é imprescindível que os sintomas sejam logo identificados e tratados corretamente.

O tratamento de crianças e adolescentes deve ser multidisciplinar, ou seja, deve basear-se na intervenção com profissionais de várias áreas, como os da área médica, de saúde mental e pedagógica.

Avaliações com um psicólogo são importantes e necessárias, principalmente na implementação de estratégias que os ajudem a contornar a situação. 

O tratamento com recurso a medicação é muito utilizado, pois apresentam um alto poder de eficácia e melhoram o funcionamento das áreas cerebrais responsáveis pelos sintomas do transtorno.

A orientação aos pais é fundamental, pois fornece os conhecimentos necessários sobre a doença. Além disso, vai ajudar a melhorar o convívio familiar e vai permitir que estes aprendam a lidar melhor com a criança,  prevenindo futuras recaídas.

As crianças que sofrem com esta perturbação, sem qualquer apoio médico e psicológico, não costumam ultrapassar as suas dificuldades, e por essa razão, alguns sintomas tendem a persistir na adolescência e na idade adulta. Geralmente manifestam fracasso escolar, pouca autoestima, ansiedade, depressão e dificuldades na manutenção de um comportamento social adequado. 

Quando não aderem ao tratamento, o risco de abuso de álcool ou de estupefacientes e a percentagem de suicídios tendem a ser mais elevados do que na população em geral.

É importante reforçar que a terapêutica pode aliviar muitos dos sintomas mas não existe uma cura específica para esta condição.


Como lidar com estas crianças?


Uma das recomendações à família é a suspensão das repreensões e dos castigos. É importante que as crianças sejam elogiadas, reconhecidas e valorizadas pelo que elas têm de bom, sempre que fizerem algo corretamente. Este reforço positivo vai contribuir para um aumento da autoestima da criança e evitar sérios problemas futuros, pois é muito prejudicial ficar constantemente repreendendo ou castigando a criança.

Intervenções no contexto escolar são importantes e muitas vezes é preciso um acompanhamento psicopedagógico e reforço escolar. A intervenção escolar facilita o convívio destas crianças com os colegas e tenta impedir que elas se desinteressem pela escola, o que é muito comum nesta perturbação.


dicas que deve aplicar ao seu filho/educando em casa:

  • Estabeleça limites e regras;
  • Seja paciente, demonstre afeição e amor;
  • Faça elogios, incentive sempre que consegue cumprir uma atividade. Quando precisar repreendê-lo, tome cuidado com a forma com que o faz, pois o excesso de críticas prejudica a autoestima da criança;
  • Procure passar mais tempo na companhia da criança;
  • Ensine a criança a adquirir formas de organização adequadas, como calendário de atividades diárias;
  • Seja claro e objetivo. Evite usar palavras de difícil entendimento ao se comunicar com a criança,  procure usar palavras mais fáceis e frases curtas;
  • Ao falar com a criança, posicione-se em frente da mesma, olhando nos seus olhos e fale com calma até ter certeza de que a criança o compreendeu;
  • Jamais exponha a criança ou crie constrangimentos;
  • Tente usar técnicas de motivação e recompensa;
  • Não grite, use menos o "não" em detrimento de diálogos que o motivem a pensar e refletir.

dicas que devem ser implementadas na escola: 

O ambiente em sala de aula pode ser desafiador para estas crianças, pois apresentam dificuldades em concentrar-se, o que condiciona as suas aprendizagens. Geralmente estas crianças acabam por ficar frustradas, pois querem se comportar e aprender da mesma forma que os colegas, situação que se torna complexa devido aos seus problemas neurológicos que as impedem de aprender de "maneira tradicional"


Algumas ações que podem melhorar a experiência da criança na escola:


  • Planear com antecedência, falando com os professores ou diretores da escola, antes do ano letivo começar, para planear estratégias de ensino;
  • Discutir as suas expectativas em relação ao ensino da criança com o professor, para que em conjunto,  possam desenvolver metas realistas e possíveis de serem alcançadas pela criança;
  • Ouvir o que o professor tem a dizer sobre as dificuldades de seu filho é essencial, pois dessa forma, entenderá melhor o seu raciocínio;
  • Não esqueça de referir os medicamentos e tratamentos que a criança está a realizar;
  • Questione o professor sobre quais as estratégias de aprendizagem que estão a funcionar na sala de aula, e quais não, para que possa aplicá-las em casa, por meio de educação domiciliar.


Mitos sobre o Défice de atenção


1.  Só as crianças podem ter défice de atenção

Como vimos anteriormente, o défice de atenção pode prolongar-se até à vida adulta, condicionando o quotidiano destas pessoas. Contudo é durante a infância que esta perturbação se torna mais evidente, principalmente quando a criança entra para a escola. 


2. Tem de ser hiperactivo para ter défice de atenção

Apesar de estar muitas vezes associada, nem sempre quem tem perturbação de défice de atenção é uma criança hiperativa, e vice-versa. 


3.  Se consegue concentrar-se em algumas atividades, não tem défice de atenção

As crianças que apresentam esta perturbação podem e têm momentos em que conseguem estar atentas e concentradas, apesar de serem períodos, considerados curtos, pois a sua capacidade em estar atenta está comprometida. 


4. A medicação pode curar o Défice de atenção

Esta perturbação não é considerada uma doença, e por essa razão não existe uma cura específica e milagrosa. Contudo, a medicação vai ser essencial e fundamental para atenuar e diminuir os sintomas caraterísticos do défice de atenção. 


Muito Obrigado pela sua leitura! 

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