Quando tudo se resume ao: "É muito caro"
O texto que segue surge face às constantes frases: "É muito caro" que já ouvi, li e telepaticamente percebi no olhar das pessoas, até mesmo através das respostas e mensagens recebidas através das redes sociais. Sendo mais concreta, refiro-me ao valor das consultas, e não só, ao valor que a profissão de Psicólogo ainda tem, infelizmente, nos dias que decorrem. Aliás, penso que a maior parte dos colegas, psicólogos, deve, em parte, se não na totalidade, concordar comigo, muitos devem passar pelo mesmo, pela constante subvalorização do nosso trabalho, sim.... porque é isso que acabamos por sentir do "outro lado".
Infelizmente as pessoas, talvez por experiências menos boas, ainda não valorizem o trabalho deste profissional, que é só aquele profissional que cuida de algo tão importante, se não o mais importante para o bom funcionamento e equilíbrio do ser humano - A MENTE!
É importante refletir e perceber que se a saúde mental não está a funcionar bem ou de forma equilibrada, todo o resto fica condicionado e afetado, e mesmo que tente ignorar, desvalorizar, mais cedo ou mais tarde, esse mal-estar vai acabar por refletir-se, se calhar de uma forma mais grave e que podia ter sido evitada, ao que chamamos de doenças físicas/mentais.
Mas focando no tema em si, era importante haver uma maior reflexão por parte das pessoas quando fazem esse tipo de comentário. Provavelmente a maioria das pessoas quando vai a uma consulta médica, em que fica horas à espera, por vezes nem 30 minutos ficam na consulta e pagam 50 ou mais euros não têm este tipo de comentário. Mas Porquê? Talvez pela desvalorização que ainda existe não só pelo profissional da psicologia como pela saúde mental em si.
Falando um pouco sobre a palavra"CARO", o que significa para si ser "CARO"?
Essa palavra pode ter inúmeros significados e interpretações. Muitas vezes o "ser caro" pode estar diretamente relacionado com as prioridades que temos na vida. Um indivíduo que tem a saúde mental como prioridade, que está focado em cuidar de si e do seu bem-estar, pode ter outra interpretação da palavra "caro". Quantas vezes não compramos algo que gostamos por ser caro, e depois quando nos apercebemos, já gastámos esse valor em outras coisas, muitas vezes fúteis e sem necessidade?! É perfeitamente normal isso acontecer, por isso, é importante definir prioridades e agir em prol das mesmas. Até que ponto a sua saúde mental é ou não uma prioridade?
Outro ponto que gostava de abordar é a crise financeira uma vez ser uma temática sempre, ou quase sempre, abordada por grande parte das pessoas que procuram ajuda psicológica. É importante perceber que a crise existe à muito tempo, não é de agora, é algo que sempre esteve presente, e que sempre vai existir, claro que mais para uns que para outros. Muitos, por vezes de forma indevida e injusta, usam o termo crise para colocar a saúde mental em segundo plano, mas muitos, que realmente estão em crise, fazem esforços admiráveis para poderem ter acesso a este apoio. O que será que diferencia e move estas pessoas? Como disse anteriormente, tudo está relacionado com as prioridades que, no momento, temos na nossa vida. É importante referir que muitos profissionais de saúde mental também estão nessa crise. Muitos profissionais ficaram sem trabalho, sem clientes, e muitos tiveram que se reinventar e adaptar a uma nova realidade. Muitos destes profissionais também precisam de agir, de trabalhar, e de ganhar dinheiro, porque como todas as pessoas, têm contas para pagar. Por isso, comentários de que a crise não permite pagar ou que devido à crise o profissional de saúde mental deve baixar o valor das consultas, ou até mesmo, trabalhar sem cobrar, são desnecessários, porque por mais que o quisessem fazer, essas pessoas também têm uma vida, também precisam de uma fonte de rendimento. Atenção que existem profissionais que podem dar-se a esse luxo, mas nem todos têm essa sorte de poder trabalhar sem cobrar, porque se tivessem, acreditem que muitos o faziam.
Sei que é um tema que trás controvérsias, e que grande parte deve estar a pensar:
"Muitas pessoas estão sem trabalho, estão desempregadas, como podem pagar um psicólogo?! Não faz sentido!"
Têm toda a razão! E provavelmente são essas pessoas que, neste momento, precisam de mais apoio! Mas antes de focarmos apenas o lado menos bom da situação, que tal tentar encontrar soluções para a situação? Deve estas pessoas desistir? Devem abdicar da sua saúde mental?
CLARO QUE NÃO!
Felizmente existem sempre soluções...
A essas pessoas, que estão mais condicionadas financeiramente e que não podem, no momento ter um serviço no privado, e atenção que quando falo no privado, não é para desvalorizar o público. Simplesmente porque no público, pela procura elevada, acaba por ter uma resposta ao cliente mais demorada, enquanto que no privado, ainda é possível ter um serviço mais rápido, o que em determinadas situações é fundamental. A essas pessoas, peço que não desistam de procurar apoio psicológico, e que apesar de, nalgumas situações, levar mais tempo, acabam sempre por acontecer, e isso é o mais importante, não desistir e tentar sempre procurar ajuda, demore o que demorar!