Doença Mental vs Quarentena

21-04-2020


Para compreender melhor quais os comportamentos caraterísticos e "esperados" de uma pessoa portadora de doença mental, num momento tão delicado e execional como este - quarentena, é fundamental perceber o significado de doença mental.



Doença mental, o que significa?

Os transtornos mentais (psiquiátricos ou psicológicos) consistem de alterações significativas do pensamento, emoções e comportamento do indivíduo, ou seja, quando essas alterações causam angústia/desconforto significativo à pessoa, interferindo negativamente com o seu quotidiano. 

Cerca de 50% dos adultos tende a sofrer de doença mental em algum momento da sua vida. Apesar dessa prevalência elevada, poucas são as pessoas que procuram ajuda especializada. 

Apesar dos avanços na compreensão e tratamento das doenças mentais, o estigma que as rodeia ainda persiste, infelizmente. Uma pessoa portadora de doença mental, normalmente é julgada de forma incorreta pela sociedade em geral, inclusive pelos seus cuidadores/familiares, que na maior parte dos casos, as culpabilizam pela sua doença ou as consideram preguiçosas e irresponsáveis, considerando em alguns casos, que estas estão apenas a tentar chamar a atenção. Mas a doença mental vai muito além disto, é algo muito grave e que as pessoas tendem a desvalorizar, afirmando muitas vezes (nos casos de depressão), que é "só uma depressão", "que não é nada de mais", "que a pessoa está a exagerar e a chamar a atenção", "que não é nada de grave"... Saibam que "uma simples depressão" pode ser fatal, e por isso, não a devemos desvalorizar. 


Quais as causas da doença mental?


Considera-se que a doença mental pode ser causada por um conjunto de fatores, tais como: 

  • Hereditários
  • Biológicos (físicos)
  • Psicológicos
  • Ambientais (incluindo fatores sociais e culturais)


As investigações têm demonstrado que os fatores hereditários desempenham um papel fundamental no surgimento dos transtornos mentais. É frequente que um transtorno mental ocorra numa pessoa cuja composição genética a torna vulnerável a esses transtornos. Essa vulnerabilidade, juntamente com os problemas da vida (familiares, de trabalho, etc) podem estar na origem e desenvolvimento de um transtorno mental.

Assim sendo, todos nós podemos estar susceptíveis de desenvolver um transtorno mental (uns mais que outros pelos factores acima transcritos), por isso, não podemos continuar com uma atitude discriminatória, preconceituosa e insensível face a esta realidade que, infelizmente, tende a aumentar consideravelmente.


Como devemos lidar com a doença mental na quarentena?


1. INFORMAR


A informação e o "estar informado" é a base de tudo. É importante estar informado do que está a acontecer para poder compreender melhor o porquê das medidas que estão a ser implementadas, caso contrário, se não houvesse qualquer informação da situação atual do mundo, a maioria das pessoas estaria super assustada e a criar histórias e autênticos filmes de terror nas suas cabeças, pois o incerto e o desconhecido fazem-nos imaginar muitas coisas, que na maior parte das vezes, não correspondem, de todo, à realidade. 

Nesta ordem de ideias, é fundamental informar as pessoas portadoras de doença mental sobre o que está a acontecer. Como fazer? Cada pessoa é um caso singular e cada doença mental tem as suas particularidades, por isso, enquanto familiar/cuidador, deve adequar essa explicação à pessoa em questão. Independentemente do modo como faça, tenha a certeza que essa pessoa compreendeu o que disse, e que está mais tranquila e calma com o que está a acontecer. Fale sobre a situação, como prevenir, sobre as medidas que estão a ser implementadas, e acima de tudo, que é algo temporário, e que por isso, não vai durar para sempre!  

Lembre-se que não sabe o que vai na cabeça dessa pessoa, pois sem qualquer informação, ela pode estar a imaginar o pior cenário, e por isso, vai ficar mais ansiosa, stressada, com medo, pânico, tudo aquilo que devemos evitar que sinta num momento tão sensível como este! Deve falar abertamente da situação pois vai estar a ajudá-la a clarificar a sua mente, os seus pensamentos, evitando situações mais graves como uma eventual recaída e/ou crise psicótica. 

Esta transmissão de informação pode ser suficiente para PREVENIR/EVITAR uma recaída ou crise psicótica! 



2. TOMAR SEMPRE A MEDICAÇÃO


Geralmente as pessoas portadoras de doença mental, são e devem ser seguidas por um psiquiatra, que por sua vez, e de acordo com o diagnóstico, prescreve uma determinada medicação. Assim, é importante, que enquanto familiar/cuidador, esteja atento a essa toma de medicação, uma vez que grande parte destas pessoas, Infelizmente, recusa ou finge tomar. Esteja presente e espere até que tenha a certeza de que a pessoa tomou a medicação.

Tendo em conta esta situação de isolamento, que por sua vez, é vivenciada de modo mais intenso pelas pessoas portadoras de doença mental, garanta que não falta a medicação e que esta é tomada a tempo e a horas! As falhas na medicação não podem existir, caso contrário, aliado a esta falta de medicação, o stress, medo, ansiedade e pânico excessivo vão acabar por desencadear uma crise psicótica e recaída desnecessária. 


3. MANTER-SE ATIVO


Independentemente desta situação de quarentena, as pessoas portadoras de doença mental tendem a isolar-se no seu dia-a-dia, por isso é normal que não note muita diferença neste aspeto. Contudo, é importante perceber, que numa situação como esta, de isolamento, em que a pessoa está mais sensível, com medo, ansiedade, por vezes pânico (por falta de informação) vivencie esta fase de um modo mais intenso que as pessoas ditas "normais", e por isso, torna-se fundamental ajudá-la a contrariar esta situação, pois quanto mais parada e isolada estiver, mais parada e isolada vai querer estar. A maioria vai optar por ficar no seu quarto, e se não forem estimuladas ou incentivadas, passam o dia, ou parte dele, deitadas a descansar e/ou a dormir. A interação que já era reduzida pode acabar por ser quase nula ou nenhuma. 

Enquanto familiar/cuidador deve ter muita paciência, e acima de tudo, insistir, sem nunca desistir, de tornar esta pessoa mais ativa e participativa nas atividades familiares. Não será uma tarefa fácil, mas no final vai valer a pena e vai ser muito enriquecedor para a família em geral.


O que fazer?

  • Deixar que a pessoa portadora de doença mental seja envolvida nas tarefas/lides domésticas (ajudar a confecionar as refeições; ajudar a pôr a mesa, tirar a mesa para as refeições; ajudar a lavar a loiça; ajudar a arrumar a casa; incentivar a arrumar o seu quarto, etc...). Mesmo que a pessoa não queira (o que é perfeitamente normal) insista para que faça e jamais ceda! Lembre-se que o responsável é você, que existem regras e normas numa casa e que essas devem ser cumpridas, seja por uma pessoa portadora de doença mental ou não. É importante relembrar que pessoas portadoras de doença mental não são incapazes nem "coitadinhos", e por isso, podem e devem participar das tarefas como todos os outros elementos. Mantenha-se firme!

  • Fazer estimulação cognitiva, ou seja, deve incentivar que a pessoa portadora de doença mental realize atividades que estimulem o funcionamento do cérebro, uma vez que, na maior parte das situações, este acaba por ficar afetado. Por isso, realize tarefas tais como: sopa de letras, palavras cruzadas, "jogo do stop", sudoku, mikado, jogos de cartas, etc... Deste modo, além de ajudá-la a estimular o cérebro, está também a ajudá-la a manter-se ativa e a "esquecer" por momentos esta situação desagradável, mas necessária para todos nós.


O que não fazer?


Enquanto familiar/cuidador não deve pensar que uma pessoa, por ser portadora de doença mental, seja menos capaz que uma pessoa dita "normal". Por isso, não a deixe de parte nas tarefas familiares, mesmo que para isso, tenha que insistir durante algum tempo, seja paciente! Lembre-se que o principal objetivo é fazer com que esta pessoa se sinta útil, capaz e mais autónoma.




Para mais informações, mais dicas, entre em contato!


Muito Obrigada! 




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